sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Semana Mundial do Aleitamento Materno 2011


Semana Mundial
do Aleitamento Materno.

Para pensar…



Alguns mitos da amamentação





Quando um casal se vê confrontado com um bebé em casa, geram-se um misto de sentimentos e experiências na qual a insegurança faz parte do seu cocktail emocional. De todo lado, vêm os conselhos e partilhas para que estes tomem as decisões mais corretas. Este bombardeamento de saberes tem subjacentes as vivências, experiências não só pessoais, mas também, culturais. E lá vêm os mitos…E alerto que os profissionais de saúde, como pessoas na sua essência, não são imunes aos mitos. Eis alguns mitos sobre a amamentação frequentes na nossa sociedade:
1. A maioria das mulheres não produz leite suficiente. Na verdade, a maioria das mulheres produz em superabundância. O problema frequente, não é a quantidade de leite que a mulher produz, mas sim, a quantidade de leite que o bebé consegue receber da mãe. Por isso, é importante haver uma pega adequada (forma como o bebé abocanha a aureola da mãe), um início precoce do aleitamento materno (na primeira meia hora após o nascimento), e não oferecer biberão ou chupeta enquanto a lactação não esteja bem estabelecida.
2. O leite materno pode ser fraco. Não há leite materno fraco ou forte. Pode acontecer o bebé não estar a receber o leite materno em quantidade suficiente. Daí a importância de uma pega adequada. É também frequente comparar-se o leite materno com o de vaca. Naturalmente, são alimentos completamente distintos, pois provêm de mamíferos bem distintos. O leite materno é vivo, preparado para bebés, cuja cor e textura se vai modificando consoante as suas necessidades específicas e não é branco como o leite de vaca.
3. A mulher que amamenta não deve consumir café, chocolate, bebidas gaseificadas, feijão, grão, couve, laranja, tomate, etc.…Na verdade, não fará mal que as mulheres se abstenham de café, chocolate, bebidas gaseificadas, pois não têm valor nutricional. O mesmo não se pode dizer dos restantes, que são nutricionalmente importantes. A restrição pode provocar desequilíbrios na alimentação materna e segundo um estudo recente de FERREIRA (2010), esta restrição reduz a experiência de sabores a que é exposto o lactente, com potencial prejuízo, mais tarde, quando ele começar a diversificação alimentar. Assim sendo, é importante que a dieta materna seja variada e equilibrada. Nenhum alimento saudável deve ser evitado a não ser que a mãe identifique claramente que o seu bebé reagiu mal quando ingeriu determinado alimento potencialmente alergénico.
4. É importante oferecer água ao bebé, especialmente em dias de calor. A quantidade de água necessária para o bebe é obtida através do leite materno, se a amamentação for exclusiva (alimentação só com leite materno) e não restrita (sempre que o bebé quiser, seja de dia ou de noite). Nos dias de calor ou se o bebé tiver sede, deve-se oferecer leite materno.
5. É normal a amamentação ser dolorosa. A sensibilidade nos mamilos é frequente nos primeiros dias. Qualquer dor nos mamilos que ultrapasse o 4º a 6º dia, não deve ser ignorada. Frequentemente, a causa desta dor é uma pega ineficaz que faz com que o mamilo da mãe seja pressionado e ferido contra o palato duro do bebé. A pega ineficaz também impede que o bebé receba a quantidade de leite que a mãe tenha para dar. Por vezes, também acontece, estando a amamentação bem estabelecida o aparecimento de um novo episódio de dor intensa quando se amamenta. Este poderá ser causado por uma infecção por “Cândida” que deve ser tratado na mãe (auréola) e no bebé (sapinhos e eventual eritema nas nádegas), de forma a normalizar a situação.
6. Tirar o leite manualmente ou com auxílio de uma bomba é uma boa maneira de controlar o leite que o bebé ingere. A ocitocina é uma das hormonas importantes na lactação e é estimulada através do toque, do olhar e de ouvir o bebé (vulgarmente conhecida pela hormona do amor) e bloqueada pela preocupação, insegurança, dor e stress. Consegue imaginar o afeto de uma mãe por uma bomba extractora? Um bebé que faz uma pega adequada consegue tirar mais leite diretamente da mama do que a sua mãe, pela bomba ou manualmente. Extrair o leite só demonstra a quantidade que a mãe consegue extrair naquele momento. No entanto, a extracção é útil, mas deve ser reservada para ocasiões em que a mãe não pode amamentar.
7. Quando as mamas estão moles, sinal de pouco leite ou que o leite secou. É uma preocupação comum quando a amamentação está bem estabelecida. Acontece que deixa de haver aquela sensação de mamas cheias ou vazias porque a amamentação está regulada de acordo com as necessidades do bebé, assim como, a disponibilidade da mãe. Sabe-se hoje, pela anatomia e fisiologia da mama que a mama não funciona como um depósito. O leite materno poderá ser produzido só quando se coloca o bebé à mama. O efeito da sucção (impulsos sensoriais sobre o mamilo) envia uma mensagem ao cérebro da mãe (hipotâlamo) e entra uma hormona importante em circulação, chamada prolactina que é responsável pela produção de leite. A ociticina é outra hormona importante na lactação e que é apenas responsável pela ejecção de leite (saída) e varia muito, consoante as emoções da mãe. Entra também em circulação com a sucção do bebé e melhora com o toque, o olhar, o ouvir o bebé, assim como os sentimentos de tranquilidade da mãe.
8. O leite formula/adaptado é igual ao leite materno. Igual, não é. A tentativa de imitação é o objectivo das indústrias que fabricam o leite adaptado. Estes leites contêm mais proteínas, embora nos últimos anos tenham vindo a ser corrigidas, logo, são substancialmente diferentes. O leite adaptado não contém anticorpos, leucócitos ou hormonas como contém o leite materno. O leite adaptado contém mais ferro, mas este não é tão bem absorvido como o contido no leite materno. O leite adaptado não varia do início da mamada ao fim, não varia desde o dia 1 ao7 ou 30, consoante a idade do bebé, ao contrário do leite materno que é um alimento vivo. No entanto, é o melhor substituto para o leite materno quando a mãe não pode ou não quer amamentar.
Existem muitos mais mitos como por exemplo, o uso de mamilos de silicone protege os mamilos… mamas grandes dão mais leite…mamilos rasos ou invertidos não dão para amamentar… deve-se dar de mamar 20 minutos em cada mama…. E que este jornal inteiro não seria suficiente para desvendar.
Abordámos apenas alguns mitos, para que deixemos de os perpetuar, de forma, a ajudar as mulheres no futuro. Alguns destes fizeram parte da nossa história de amamentação (família) e mesmo que o nosso tempo de amamentação já tenha passado, sejamos proativos, para ajudarmos a ter sucesso, aqueles que querem.
Deixo aqui um conselho para as mães que querem amamentar: Quando tiverem dificuldades ou dúvidas procurem ajuda profissional desde cedo. Existem cada vez mais Conselheiras em Aleitamento Materno nos Centros de Saúde e Hospital, que estão disponíveis para ajudar as mães que o desejem.

Rita Leal
Enfermeira Especialista em Saúde Materna e Obstétrica
Conselheira em Aleitamento Materno pela OMS/UNICEF
ACES Baixo Vouga II, USF Santa Joana.

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